domingo, 26 de outubro de 2014

A última coisa que lembro: Segunda parte

Olá, caros imortais, como estão?
Peço desculpas pela demora desta postagem, mas realmente minhas demandas de tempo estão cada vez mais curtas. Faculdade e trabalho dominam meus dias, infelizmente.
Graças aos bons deuses pela madrugada e o seu bendito silêncio!

Sem mais delongas... Vamos a segunda parte do conto: A última coisa que lembro.
Ah... Não se esqueça que críticas, comentários e sugestões serão sempre bem vindas.


A última coisa que lembro: Segunda parte



Minha visão corria longe naquela imensa planície. O vento soprava forte em meu rosto gelando minha suave e machucada pele que se encontrava encharcada de suor, senti minha alma tremer perante a vastidão daquele desconhecido lugar.

A vegetação parecia um lago congelado, porém ao balançar perante as fortes rajadas de vento assemelhava-se a um enfurecido oceano tempestuoso. Recuei ate a base do tronco, pois colocar as costas escoradas e fincar os pés no galho era tudo que podia fazer para resistir aquele poderoso vento semelhante a um tornado, quando os relâmpagos começaram, e as rajadas sopraram devastadoramente mais fortes, temi a chegada da chuva. Imaginava a água caindo do céu como gigantescas pedras, pois a chuva deveria ser em proporção ao gigantesco lugar, pensei, a primeira gota que me atingir a cabeça certificaria a minha eterna permanência naquele lugar.

Em quanto estendia os braços e espalmava as mãos no fantasmagórico tronco para manter-me firme na árvore, avistei a alguma distância um lago tão escuro quanto à noite vista por uma janela na madrugada. Mais próximo à árvore havia um punhado de pitorescos animais, tentei medir seu gigantesco tamanho mas perdi o raciocínio, se eram mais altos que a grama, que por sua vez deveria possuir uns... Três metros e mais compridos que a árvore de seis só pude empregar o adjetivo de “tamanho colossal” a sua descrição. Lembravam-me de rinocerontes, com sua pele pregueada e sua forte musculatura nos ombros das patas dianteiras, mas estreitando os meus olhos vi sua enorme diferença, pois em toda a sua cabeça, peito e dorso ate a metade do corpo era composto por uma camada muito grossa e mais elevada que o restante, parecia uma armadura de combate destacada do todo marrom-âmbar, pela sua cor negra. Fora a sua armadura e elmo seu corpo era liso como o de um cavalo, eu pensei. Já a sua longa cabeça afunilasse até chegar à boca, como um tamanduá, eu acho e no meio do seu comprimento impõe-se um grande chifre que provavelmente era do meu tamanho, mas as minhas noções de escala já estavam perturbadas naquele lugar. Vejo que estão comendo algo ou ao menos suponho já que passam a maior parte do tempo com a cabeça abaixada na grama e somente vez que outra a erguem sobressaltados como se estivessem ouvido alguma coisa. A imagem daqueles monstros de cor marrom-âmbar e peito negro andando entre a relva branca como a neve certamente era algo de que não me esqueceria, se houvesse tempo de existência para relembrar, alertei-me.

De longe me parecem pacíficos, mas olhando para baixo recordo da altura da grama e penso em como eles são gigantes, praticamente dinossauros para mim. Poderiam esmagar-me sem notar minha insignificante presença.



A fria chuva começou. Ela agredia minha pele, pois era empurrada com força pelo vento, e deixava-me tão pálida quanto uma vela e o frio fazia-me bater o queixo, mas as gotas não eram um oceano despejado por cima de mim como tinha imaginado, o que não diminuía em nada a ferocidade da tempestade. O céu escurece e o dia torna-se anoitecer. Já não consigo manter-me tão firme na árvore, tronco e galhos ficam escorregadios e sorrateiros, sinto que posso cair a qualquer momento. Por mais que o medo e o instinto de sobrevivência gritassem na minha cabeça e estremecessem o meu corpo, logo me vi embriagada por uma euforia nunca comtemplada em mim antes. Estava no topo do mundo com os meus cabelos loiros e curtos dançando em meu rosto, assistindo o espetáculo mais sinistro e gigantesco da Terra, se é que estava na Terra. Os pitorescos animais quadrupedes que havia deslumbrado não pareciam se importar com o açoite da chuva naquela planície e não moviam um musculo além daqueles que já moviam. A adrenalina me dominou e o habitat selvagem também, os relâmpagos quase me cegavam, gargalhadas e nervosismo se manifestavam, acho que ria da desgraça e insignificância que representava em meio ao desconhecido e assim que um trovão explodiu nas nuvens, esvaziei os pulmões em um grito de susto e desesperadamente ri de mim mesmo. Já o estrondo seguinte fez com que meu pescoço virasse em sua direção tão rápido que estralou os ossos, o som de montanhas chocando-se vinha do impacto do ataque de um gigantesco ser alado contra os quadrupedes de armadura.


To be continue...

Veja a:

Livros ou Travessuras #tag2



Livros ou Travessuras?

Boa noite, caros imortais, abro alas para o projeto Blogagem Literária Coletiva. Iniciativa dos blogs Os Literatos, Diário de uma Livromaníaca e Chá &Livros. Consiste basicamente em unir os blogs para falar sobre um mesmo tema, o que não foge da ideia da Sociedade do Saber, em unir contos e crônicas em um mesmo lugar. Vamos aos livros:

1°. Livro Drácula: Os vampiros são caracterizados por sugar o sangue alheio, cite aquele livro que sugou todas as suas forças, deixando você sem ar.



The Amber Spyglass (A luneta âmbar). Ultimo livro da trilogia His Dark Materials (Fronteiras do universo). Simplesmente o livro me deixou dentro dos mundos paralelos e faz com que você acompanhe as façanhas de Lyra como se o destino da sua vida dependesse disso. Sem mencionar a filosofia e influências de poetas e escritores perpetuados pelos seus ideais, que são usados como fonte de inspiração durante toda a narrativa.

2°. Livro Fantasma: É de consenso geral que os fantasmas existem nas histórias de terror para assustar e assombrar a todos. Comente sobre aquele livro que te assombrou durante muito tempo.


Um Sussurro nas Trevas. Minhas humildes saudações a Howard Phillips Lovecraft. Sua obra continua a me assombrar e aterrorizar. Seu suspense hipnotizante e o método perspicaz de mexer com a sua cabeça é de arrepiar.

3°. Livro Lobisomem: Tal qual a licantropia que passa de mordida por mordida, cite um livro que você gostou tanto que indicou a várias pessoas.



O garoto no convés. John Boyne sabe como criar um personagem cativante, isto é fato. E assim como John Jacob Turnstile navegou por águas tão distintas e chegou a lugares tão remotos e deslumbrantes, assim o faço com seu livro. Eu o jogo ao mar constantemente.

4°. Livro Bruxa: Bruxas são famosas por jogarem feitiços e maldições nas pessoas. Portanto, conte-nos qual livro que te enfeitiçou, pode ser tanto de forma positiva quanto negativa.



A menina Submersa. Conheci Caitlín R. Kiernan com este insano e memorável livro. Com certeza estive e talvez esteja enfeitiçado. Enfeitiçado pelo feitiço da loucura! Este livro faz você questionar sua realidade e a dos outros, nas palavras de Imp ou India Morgan Phelps este conto é uma sereia.

5°. Livro Frankenstein: Infelizmente, o Frankenstein é aquele personagem o qual as pessoas julgam pela sua aparência aterrorizadora. Em sua homenagem, comente aquele livro que a princípio você julgou mal pela capa, mas ao ler você acabou gostando da história.



Não julgo livros pela capa, mas após ler algumas críticas de O vampiro que descobriu o Brasil, tive uma má impressão sobre ele, porém, fui além e ao ler sua narrativa descobri um ótimo meio de estudar a história do país hehe. Ivan Jaf também teve uma grande sacada.

6°. Livro Zombie: O Zombie é aquele personagem clássico que não dorme. Qual foi o livro que te fez ficar acordada a noite toda sem conseguir parar de ler?



A tormenta de espadas. Com toda certeza que há em mim, digo que George Raymond Richard Martin é o principal motivo da minha constante insônia. Este livro dispensa comentários. É o que é, e você precisa ler! Aliás, todos.

7°. Livro Gato Preto: Essa é aquela lenda que você não sabe se acredita ou não e acaba ficando confuso. Sendo assim, fale daquele livro que te deixou confuso, sem saber muito bem como reagir a ele.



Inferno de Dan Brown, após sua leitura você fica em cima do muro entre gritar que o mundo está acabando, e o conformismo e ate pensa em extremismo da parte do autor. Creio que pendi para a primeira opção.

8°. Livro Fogueira: A fogueira foi à causa das mortes injustas de muitas “bruxas”, assim como um símbolo presente em várias narrativas de horror. Conte sobre aquele livro que acendeu uma chama interior e te deixou pegando fogo de tanta raiva.



A moreninha. Não é revoltante, mas é tão chato que fiquei extremamente irritado por lê-lo. hehe

9°. Livro Cavaleiro Sem Cabeça: Diz à lenda que o Cavaleiro que assombrava Sleepy Hollow perdeu a cabeça durante a Guerra da Independência dos EUA. Porém aqui o que faz perder qualquer parte do corpo são os livros, por isso, conte-nos sobre aquele livro que te fez perder a cabeça, ou seja, a compostura.



A guerra dos Tronos. O lado perverso e lascivo de George Martin me assusta e fascina ao mesmo tempo. E o choque foi total quando li o primeiro livro da saga As Crônicas de gelo e fogo.

10°. Livro Cemitério: O cemitério é um cenário clássico do Halloween e das narrativas de terror, ele é considerado um lugar terrivelmente calmo e silencioso, reservado para o sepultamento dos mortos. Para caracterizar o cemitério, cite aquele livro que você enterrou na sua estante, não terminou de ler ou nem mesmo começou, seja por ter esquecido ou por ter desanimado com a história.



Jardim de inverno de Kristin Hannah. O livro tem um prólogo comovente e parece ser realmente bom e o inverno me fascina, mas não tive aquele algo mais sabe? Creio que como dei de presente a minha mãe e ela não se interessou muito, isso fez ele voltar deprimido para minha estante (ou pilha insana de livros, como costumo chamar). Mas ainda pretendo lê-lo.


Agradeço o espaço aos blogs idealizadores do projeto e a todos os blogs participantes pela acolhida. Espero que tenham gostado e não esqueçam de escarafunchar os contos, eles podem te surpreender!

domingo, 12 de outubro de 2014

Faça boa arte!


Vivemos tempos de artigos de consumo, ou de literatura criativa? Os livros são comprados, lidos superficialmente e largados em alguma estante para serem esquecidos em meio à poeira? As boas obras estão por aí e basta você se dar o trabalho de garimpar? Você vê o copo meio vazio ou meio cheio?

Creio que esta questão vá além da perspectiva, infelizmente.  Claro que livros que provocam reflexão, instigam e alimentam a imaginação existam aos milhares (agradeço as mentes inquietas que nos proporcionam oceanos profundos para o passeio de nossas almas), mas o que vemos sendo consumido em massa, em âmbito geral (com muitas exceções, graças às mentes...) é uma literatura pobre, vazia e incentivada por uma mídia tendenciosa. Se a moda é vampiros, as represas são implodidas e lá vem à enxurrada de seres que se alimentam de sangue e... Brilham a luz do dia?! A moda são anjos, reprodução em massa, opa! Mudou para fantasias sexuais, gritam em coro editoras e oportunistas: Reprodução! Reprodução!

Portanto, seguiremos os princípios que o renomado Neil Gaiman aconselha a turma de formandos em artes da Filadélfia, EUA (2012), são dicas para quem está começando na arte da escrita (ou da criação, enfim) e também para aqueles que já criam há algum tempo. Para mim, foi extremamente motivador, sabe aquela palavra certa para o momento certo? Exatamente.

Para quem não viu, fica a dica e para quem já viu é bom para refrescar a memória... Justamente por isso que reservarei um lugarzinho permanente para este vídeo aqui no blog. Ate a próxima.


Aproveitem.

Por que você escreve?


Ah, o velho e bom motivo! A maioria de nós precisa muito deles, nos perguntamos: por que estamos aqui? Qual o sentido desta vida? Da onde viemos? Para onde vamos? Confesso que eu preciso. Mas também há aqueles que são guiados pela intuição, pelo prazer e pelo simples instinto de sobrevivência. Talvez sejam psiques diferentes, um código fonte diferente, ou ainda, talvez essas duas concepções sejam irmãs, não acham? Faces da mesma moeda, estilos diferentes, filósofos e máquinas, pessoas funcionais e pessoas criativas. Chame como quiser, afinal não existe um códex pra vida (talvez exista, depende do seu ponto de vista...) e assim é para a escrita. Ou você escreve para buscar respostas, ou a resposta é você escrever.

Escrevemos porque somos compelidos a isso, digo, cada segundo que você viveu constrói aquilo que é e faz, somos compelidos por nossas histórias, comandados pela própria consciência, enlouquecidos por outras vidas, outras pessoas, outras personalidades, outros mundos, outros seres, deus! Todos estão gritando por uma brecha de existência, almejando sentir o calor do sol, todos eles estão chutando a sua cabeça de dentro para fora, são como um vírus querendo se multiplicar, querem brincar com outras consciências e subconsciências e a partir disso criarem outras versões de si mesmos e suas versões outras e outras em um ciclo infinito, migrando sempre da Terra onde as coisas não existem (Desexistência, chamarei) para a Admirável Terra da Existência, por uma ponte que cada um constrói de forma diferente e chega a lugares diferentes. Todos querem existir. Criaturas e criadores.

Óbvio que não sou capaz de dar uma resposta, talvez isso seja a minha resposta, mas se percebe o quanto isto é glorioso? Quero dizer, cada um de nós; aspirantes a criadores de percepções acharão a sua motivação, intenção e estilo para escrever. E como é prazeroso sentir-se livre em uma folha de papel, somos descobridores de um novo mundo, colegas! Então abram as suas lunetas e me digam, o que vocês estão vendo?


Carta de apresentação do blog

A intenção desta comunidade é que todos os seus membros (inclusive eu) adquiram e compartilhem conhecimento literário. Seu lema (sempre quis dar um lema a alguma coisa) é: Questione, descubra e entenda!


Este canal literário conterá contos, crônicas, enquetes sobre assuntos literários, cinema, ficção, enfim, tudo aquilo que for pertinente à criação. Se você quiser divulgar suas histórias e questionamentos receberá portas abertas. Não devem existir barreiras para a criação da boa arte.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Let's Create Together!




 Logo haverão algumas crônicas aqui, mas realmente tenho uma admirável queda pelos contos e sua narrativa mais extensa, não escrevo crônicas com tanta frequência, mas afinal este espaço também é seu!

Se você aprecia este gênero literário e deseja compartilhar sua experiência com colegas da escrita, este é o lugar certo para divulgar a história!


Não seja tímido e lembre-se que este é um ambiente de aprendizado.

A última coisa que lembro: Primeira parte

Olá caros imortais, como estão? (esta pergunta pode ou não ser retórica, depende de vocês hehe, mas de fato não é vazia).

Vocês não imaginam o quanto foi trabalhoso (ou talvez imaginem, provavelmente imaginem caros colegas de escrita e leitores, perdoem-me) arrancar este conto da Terra da Desexistência e trazer a luz do dia, ou da noite, entardecer, anoitecer, enfim depende do momento do dia em que você está lendo e o tornando vivo ! Mas creio que valeu a pena, vocês também o dirão se assim concordarem.

De fato aqui estou eu postando isso exatamente às cinco da manhã (são 04:54, sou tão maluco que vou ter que postar exatamente no horário arredondado, bem vamos lá tenho cinco minutos hehehe) após ter começado a concluir o conto hoje as 15:30 da tarde e levando em conta que já faz quase um mês com que sonhei a maior parte dos acontecimentos deste conto. Óbvio que escrevi outras coisas nesse meio tempo, mas sem querer ser enfadonho foi incrivelmente difícil segurar a lembrança do sonho por tanto tempo (faltam dois minutos para postar aí... )

Acabou ficando um tanto extenso, mais do que imaginava que seria, portanto, dividi em quatro partes que postarei diariamente nos dias seguintes. Bem, sem mais delongas...

Vamos ao conto! (lembrando que comentários, críticas e sugestões são sempre bem vindas, até a próxima)



A última coisa que lembro
Primeira parte



De repente estava lá.


Deitada em meio aquele estranho gramado, uma brisa suave trazia consigo um cheiro horrível ao qual não consegui distinguir. O som daquele lugar era selvagem, com zunidos de insetos por todos os lados.


Contemplava um céu extremamente azul, mas muitas nuvens escuras começavam a se acumular. Talvez chovesse logo. Por algum motivo encontrava-me ofegante como se algo me mantivesse alerta, suponho que instinto.


Sentei, mas a grama cobria-me, essa se erguia do chão como milhares de lanças pontiagudas apontadas para o céu, espessas como dois dedos da mão e tão alta que quando me coloquei em pé percebi que mesmo que tivesse alguém para por nos ombros e olhar por mim ainda assim esta pessoa estaria sufocada pela vegetação, sua coloração era incrível, tão verdes perto do solo e brancas como a neve na medida em que subiam.


Era necessário abrir caminho com os braços dobrando maços de grama a cada vez que dava um passo, logo surgiram pequenos cortes em meus despreparados braços desnudos. Toda a extremidade das folhas daquela grama era dentada como um serrote.


A agonia de não ver nada a minha frente pesava em meu peito, o tremendo esforço que fazia para abrir caminho na mata deixara minhas costas e testa ensopadas de suor e da ponta dos dedos da mão até os ombros de sangue.


As lágrimas escorriam pelo meu rosto e a sede era tanta que nenhuma escapava da minha boca, por mais que seu ácido gosto salgado me amargasse à língua. Bati em algo sólido, era difícil entender o que era, pois a vegetação escondia quase toda a sua superfície, imaginei que fosse uma gigantesca rocha, já tinha visto aquela pálida coloração branca, porém de um tom mais escuro do que a parte superior da grama, em algumas pedras de uma Ilha em que estive, além disso, era extremamente dura. Tentei circundar o obstáculo, mas após cinco passos ainda estava tateando aquela áspera parede.


Percebi alguns sulcos e desesperadamente calcei meus pés iniciando uma rápida escalada. Talvez finalmente respirasse um pouco melhor, talvez descobrisse onde estava. Deus! ao menos estaria livre daquela maldita cela feita com uma grama que acredito que só cresça no inferno.


Conforme subia pude olhar mais claramente para cima e percebi que aquilo era uma árvore. Uma colossal e assustadoramente ramificada árvore! Na verdade lembrava-me um sinistro esqueleto, pois ela não possuía folhas, nenhuma sequer. Depois que subi pelo tronco, no qual deixei vívidas marcas de sangue, atingi os galhos e praticamente corria em cima deles de tão grossos que eram, mantive-me levemente curvada e com os braços estendidos para manter o equilíbrio. Estava a uns dez metros acima do gramado e isso fazia meu coração bater tão forte que por um momento pensei que a vibração fosse me derrubar o que me deixaria com a garganta cortada na esfoliante queda até o solo. Logo estava engatinhando e finalmente parei aquela corrida frenética e tirei minha atenção do lugar onde colocava um pé após o outro reservando a vista a hipnotizante contemplação que se seguiria.


 To be continued (sempre quis escrever isso!).

Continue lendo a Segunda parte.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ela é uma bruxa!

Olá caros imortais, como estão?
Mais um conto quentinho, esse tem tempo que escrevi, particularmente gosto muito dele. Coincidentemente outro conto que deixa certa apreensão no ar. Aproveitem.
Comentários, críticas e sugestões são sempre bem vindas, até a próxima.

Ela é uma bruxa!

  Isso é muito legal! Olhe para estas montanhas, pra todo esse verde... Olhe lá! Olhe lá, ao longe eu vejo uma ovelha, você vê? – É... Vejo. – Eu sempre adorei viagens de trem e mal posso esperar para chegar a Munique... A escola não poderia ter escolhido data melhor para esta excursão, será o melhor aniversário de 14 anos que eu poderia ter, e quando chegarmos lá nós poderíamos...
  Eu escutava o que Susan dizia, mas era um som qualquer, distante e indecifrável naquele momento. Efeito causado pela figura que eu deslumbrava há horas e do mesmo modo ela deslumbrava a mim, perplexo era como estava, aquela velha com olhos de serpente parecia ter sido arrancada de uma das histórias que minha mãe narra com tanta eloqüência. “... Amantes do diabo é o que elas são, seus ancestrais sabiam disso e por isso não descansaram o fio da espada...” –... E então eu poderia subir na torre do relógio da Neues Rathaus e me jogar de cabeça, quem sabe assim você me desse um pouco de atenção...
- Claro... Claro...
- Stephan!
- Não!... Não diga meu nome... É tudo que ela precisa pra saber sempre onde estou... (Diz o garoto tentando disfarçar).
- Do que você está falando?
  Eu a prendi com meus olhos e a guiei para que olhasse para a mulher, tenho certeza que ela já tinha a percebido, mas não como eu, a velha se entregava com todo aquele aspecto intimidador com seu xale preto trançado sobre os ombros, saia comprida, botas de couro com fivelas de cobre e os cabelos vermelhos como fogo flamejante, talvez isso não fosse o suficiente, mas os olhos... Os olhos me diziam tudo, o que me fez pensar que talvez não houvesse medo nela, talvez ela fosse mais diabólica ainda, talvez ela estivesse ali por um propósito... Susan me devolveu uma expressão como se dissesse “o que tem com ela?”
  Será que ela não via? Será que a mãe dela não lhe ensinava nada? Da onde nós vínhamos ela deveria saber. Pelo amor de Deus estava explicito... Estranho que ao pensar em Deus a velha se incomoda e volta a me fitar com olhos venenosos, como se quisesse se embebedar com o meu sangue. Então eu sou obrigado a ir ao pé do ouvido de Susan e lhe sussurrar palavras proibidas a crianças.
-... Ela é uma bruxa!...
  Susan levou as mãos à boca para esconder o ligeiro sorriso de deboche, eu a cutuquei para que se contivesse e a velha já denotava certa impaciência quando se desfez de sua postura ereta e observadora levantando-se do assento a nossa frente.
- Ela percebeu... Deus ela percebeu... Estamos mortos.
- Calma Stephan!... Ela só deve ter ido ao banheiro, será que você pode tentar ser normal ao menos uma vez na vida? Sua mãe não deveria alimentar essas histórias da sua família...
- Ela diz que está no meu sangue... E... Eu vejo coisas horríveis em meus sonhos!
- Para você está me assustando...
- Talvez seja tudo verdade, talvez elas sejam... Reais.
- Chega Stephan!... Eu vou sentar em outro lugar, fique com as suas maluquices... – Não, espera... Droga.
  Eu não queria ser o garoto estranho que ela dizia que eu era e não gostava da fama da minha família, mas desde que me lembro de ter memórias recordo da minha mãe fazendo orações em latim e escondendo lascas de figueira pela casa, meu pai morreu pouco depois do meu nascimento vitima de um infarto totalmente improvável e duvidoso, minha mãe diz que foi obra das filhas das filhas “delas”, diz que nunca nos deixarão em paz, diz que estão sempre a nossa espreita, sempre a nossa porta. De fato ela diz isso, “... Toda a sexta feira em que a lua for a maior no céu elas estarão do outro lado da porta e se a oração de são bento não estiver no marco elas simplesmente vão entrar e não haverá fortaleza em que possa se esconder.”
  Por mais medo instintivo que sentia minha curiosidade era maior e já havia espiado pelo olho mágico em uma sexta feira de lua cheia e não havia nada lá. Minha mãe que estava a minha espreita naquele dia se aproximou e disse “... Não pode vê-las assim...” ela pegou um pequeno espelho que usava para pentear seus cabelos e me levou ate a janela ao lado da porta, ela puxou uma parte da cortina e virou o espelho contra o vidro e disse “... Olhe, mas não tenha medo você está seguro...” eu me aproximei lentamente apreensivo pelo suspense que me consumia a alma e olhando pelo espelho de costas para a janela a principio não via nada, minha mãe rodava o espelho cautelosamente ampliando o ângulo de visão e quando já estava desacreditado eu vi. Elas estavam lá, todas elas, como um exército de longos vestidos pesados e densos como a noite, estavam todas com uma carapuça sobre a cabeça que lhe escondia quase todo o rosto, só podia ver da boca para baixo, (o que já foi o suficiente para que eu imagina-se o resto) seus dentes eram podres e afiados como os de um crocodilo, também via tranças de cabelo vermelho que saiam do capuz ate a altura do peito. Admito que a visão que mais me parecia de comissárias da morte ainda me causa calafrios.
  Eu corri e me tranquei em meu quarto, minha mãe usou a chave mestra para entrar e ficou comigo ate que caísse no sono enquanto acariciava meus cabelos dizendo que elas não podiam nos fazer mal. Naquele dia ela me deu a Cruz-medalha de são bento, era do meu pai e estava na família há séculos, nela havia várias siglas da oração de são bento, mas a inscrição que mais me chamava a atenção dizia Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas “É mau o que me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos!”.
  Lembrar disso nesse momento em que estava sozinho não me confortou em nada, mas por um momento ali sentado olhando pela janela sem a velha medonha a me apunhalar com os olhos, senti uma certa calma que me tranqüilizou dizendo “nada de ruim está acontecendo, vai ficar tudo bem” talvez fosse a paisagem bucólica que observava ou a fumaça que via saindo pela chaminé de uma casa no alto da colina, pude ate recostar a cabeça e fechar os olhos por um instante, imaginei-me já em Munique vendo o belo sorriso de Susan após eu ter me desculpado com ela.
  Minha discreta serenidade acabou no instante que a velha voltou a sentar-se a minha frente. Com as pernas cruzadas e as mãos sobre os joelhos me fitava como alguém que estava a interrogar, mas não era a “mim”, carne e osso, que ela encarava, aquele seu olhar profundo e instigador atravessava meu semblante e deixava nua a minha alma, era como se ela já me conhecesse há uma eternidade, ou talvez não a alma, mas sim a natureza dela, como se já tivesse lido tudo o que havia pra ler e agora só repassava pelas velhas páginas repudiando o conteúdo. Não suportava mais aquele jogo, se tivesse em mãos a tal espada das histórias de minha mãe por certo já teria lhe arrancado a cabeça. Havia uma tensão que esmagava meu pescoço e antes que a guilhotina descesse levantei-me para procurar Susan.
  Ao realizar o simples fato de levantar do assento e olhar ao redor era como quebrar a barreira do som ao inverso, sair da zona onde o som não se propaga e entrar em outra aonde conversas paralelas reinavam e os risos eram seus servos. – Você viu a Susan? – Pensei que ela estivesse ao seu lado... – É ela estava... Hey Melissa você viu a Susan?
- Ela passou e disse que ia sentar-se aqui depois que voltasse do banheiro, já faz uns quinze minutos... Você deve ter deixado ela enjoada (risos sarcásticos).
- Muito engraçado...
  Não sabia por que, mas meu coração começava a sufocar, caminhei ate o fim do vagão onde ficavam os banheiros bati na porta do banheiro feminino e chamei por Susan, mas a porta estava entreaberta, empurrei-a rapidamente, pois pensei que não havia ninguém, mas a imagem que encontrei foi devastadora, no instante que vi foi como se alguém me desse um forte soco na boca do estômago e antes que todo o ar abandonasse meu corpo, duas fortes mãos apertassem minha garganta com toda a força trancando o ar em meu peito. Era Susan, a garota linda que me roubava sorrisos estava na minha frente enforcada com a própria gravata do uniforme da escola, estava amarrada ao suporte do bico de luz, eu via a gravata amarrada ao seu pescoço deixando uma vermelhidão por estar tão apertada a ponto de quebrar. Seus joelhos estavam levemente flexionados e os pés tocavam o chão, de pé ela não se enforcaria, mas era calculável que a facada no pulmão do lado esquerdo a fez perder as forças, a faca estava enterrada ate o cabo e o sangue ao redor do ferimento entrava em contraste com o alvo branco da camisa social de botões escuros que usava, a camisa estava com as mangas recolhidas ate os cotovelos e na parte de dentro de ambos antebraços havia um corte profundo que formava uma cruz invertida, a linha horizontal cortava os pulsos e a vertical subia do meio da palma da mão ate onde a manga da camisa se recolhia. A mesma cruz invertida marcava seu rosto, a linha horizontal traçava de uma orelha a outra passando logo a baixo do nariz e a vertical subia do queixo ate a testa, deus... Ela estava tão pálida! Seus olhos outrora azuis celeste agora dominados por completo pelo branco esfumaçado, estavam revirados.
  Seus dóceis cabelos loiros cacheados que lhe colocavam em uma moldura aparentando ser uma leoa, agora estavam com mechas tingidas de sangue. Toda essa imagem cruel montada aos poucos explodiu em meu horizonte atordoando meus sentidos, e no mesmo instante em que arranquei com demasiado esforço este punhal do meu coração, bradei algumas palavras.
- Deus não!... Não, não, não... Ajudem-me! Ajudem-me, por favor!...
  Todos levantaram assustados – Tirem ela dali! Tirem ela... Bruscamente o trem começa a parar fazendo o som de metal rangendo soar alto, a ação repentina foi tão abrupta que levantou as pessoas um metro do chão e as fez rolar por todo o vagão, para mim tudo foi instantâneo, senti meu corpo no ar e logo vi o braço de um banco se aproximar quando tudo escureceu; o trem parou em segundos tamanha a força que o paralisara.
  Acordar e abrir os olhos foi como tirar uma agulha de trinta centímetros da minha testa. Estava deitado em meio a uma possa de sangue, metade do meu corpo estava em carmesim, apoiei-me ao banco para conseguir levantar, mas a enxaqueca provocada pelo profundo corte em meu supercílio me fez ver tudo rodando, luzes piscaram continuamente ate que estourassem de vez deixando-me completamente emaranhado em um sinistro breu, os céus estavam escuros, uma tempestade se instalou repentinamente e entre um relâmpago e outro o enjôo e a repudia tomavam conta de mim ao ver o que estava em meu redor, havia retalhos humanos por todos os lados, sangue pelos bancos e janelas foi como acordar em outra dimensão, mais precisamente no inferno. Acho que nem Picasso teria imaginado cena pior.
  Estava completamente atordoado e os únicos sons que ouvia eram de trovões e gargantas agonizantes afogando-se com o próprio sangue. Alguém tinha que estar vivo!
- Melissa?!... Peter?!... Gritava eu enquanto cuidava pra não pisar em nenhum braço, perna ou qualquer outra parte do corpo que já não podia reconhecer, estavam todos retalhados com marcas de garras, meus olhos nunca estiveram tão abertos e pasmos, o medo me prendia a língua, mas eu tinha que encontrar alguém e a cada novo passo que dava tateando no escuro fazia aquele sangue inerte no chão respingar em minhas calças.
- Por favor, alguém... Alguém está vivo?!
- Eu...
  Aquela voz me gelou a alma, pois vinha da onde a figura medonha estava a me assombrar a viagem toda. Fui aproximando-me devagar e a cada passo o coração pulsava mais depressa, logo vi a velha sentada de costas para mim virada para janela.
- Que dor horrível... Tire-me daqui, por favor... (murmurava ela).
  Todo aquele frio e vento gelado que provinha da tempestade me fazia tremer e ter a respiração condensada. Estendi minha mão vagarosamente a ela, mas perdi a noção da distância, pois não enxergava nada, então quando toquei o seu ombro houve um clarão nos céus e ela virou-se rapidamente segurando o meu braço, seu rosto transfigurou-se em uma visão diabólica, sua pele tornou-se grossa com um tom acinzentado e as orelhas grandes e pontudas como as de um lobo em estado de alerta, seus dentes eram podres e afiados como aqueles que já tinha visto. Sua mão ficou grande e magra e suas unhas tornaram-se garras ela me encarava no fundo dos olhos enquanto seu toque queimava meu braço.
- Onde está a sua coragem para me encarar agora? – Me solte!...
 Em um empurrão consegui me desvencilhar dela e corri ate o fundo do vagão onde estava quando caí. Tropecei em algo e fui ao chão, novamente sangue era o que corava as minhas mãos ao levantar os olhos percebi que havia alguém em minha frente eu reconhecia aqueles sapatos, era Susan ali em pé do mesmo modo que a tinha visto, ate mesmo com a gravata amarrada no pescoço, recuei atônito e levantei-me, os trovões e relâmpagos já eram constantes e entre uma rajada de luz e outra Susan retirava lentamente a faca de seu pulmão e eu sentia a bruxa crescendo por trás de mim.
- Susan não faça isso... Tentativa em vão, não era ela a dona de seu arbítrio, estava morta e a morte é o domínio de quem me perseguia. Susan desferiu o golpe contra mim, eu saltei para cima do banco ao lado e a faca cravou o peito da bruxa, Susan permaneceu imóvel enquanto a bruxa agarrou sua mão e a fez arder em chamas o cheiro de carne queimada me revirou o estômago, logo Susan estava em cinzas e eu corri saltando por cima dos bancos ate chegar à porta de divisa do vagão, a bruxa arrancou a faca de seu peito e dissolveu-se em uma densa fumaça escura. Eu abri a porta e continuei correndo, neste vagão todos estavam petrificados como estátuas de pedra, sorrateiramente a bruxa materializou-se a alguma distância na minha frente e arremessou a faca contra mim, o movimento foi tão rápido que já imaginei a faca atravessando meu coração.
  O dia brilhou outra vez! Acordei-me com a sensação de ter levado um soco no peito com a respiração acelerada, estava tudo em seu devido lugar e eu sentado sozinho em meu banco. Olhei pela janela e ainda via a fumaça saindo pela chaminé da casa no alto da colina, segurei a minha cruz-medalha de são bento e ela estava furada como se algo a tivesse penetrado e no meu peito um pequeno arranhão, apertei forte o colar e respirei fundo.
- Olha nos conhecemos a tanto tempo que não consigo ficar brava com você, está tudo bem não é?
  Ver Susan exuberante outra vez me fez sorrir e cintilar os olhos como nunca antes havia feito. Ainda segurando a medalha disse confiante...

- É claro... Claro. Nada de ruim está acontecendo, vai ficar tudo bem.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Duas Moedas

Olá caros imortais, talvez pareça um tanto trash abrir as postagens com um conto sobre morte, mas a intenção não é trazer má sorte, aliás a maioria dos contos não serão tão tensos assim, bom talvez uma boa parte sim, mas... Enfim este conto me veio a cabeça após escutar e assistir o videoclip da música Asylum da banda Disturbed, para quem quiser assistir segue o link:

http://www.youtube.com/watch?v=1K9jBL2syJ8

Comentários, críticas e sugestões são sempre bem vindas, até a próxima.


Duas moedas
A imagem não surgiu aos poucos.

Não estava desfocada e tornando-se nítida e nem tão pouco se assemelhava a uma ofuscante luz no final do túnel.

 Ah não!

Simplesmente ela estava lá. Estampada a minha frente sem que eu a pudesse tocá-la.

Sentia a espessa corda apertando o meu pescoço e ouvia lentamente a canção que entoava quando vez que outra, balançava ao vento. Na verdade ela me parecia ser a única coisa que mantinha minha inchada cabeça ao meu imundo corpo. Lembro-me de ter sido forçado a subir a escada de madeira sem que meus executores expressassem nenhuma comoção com os meus gritos de protesto e pragas proferidas a todos esses bastardos que me enforcavam.

A lembrança da pesada corda pousando sobre mim me retorna a mente, neste momento, amaldiçoava, a plenos pulmões, a estupida garota que morreu com uma singela pancada na cabeça, não era para sangrar feito uma porca! Somente queria que ficasse inerte perante a diversão que se seguiria.
Azar o dela que a madeira tenha lhe cravado na nuca... Dela e de outras três... Malditas sejam todas!

Pelos diabos porque ainda estou acordado?

Depois de ouvir a infame acusação e os gritos da multidão para que fizessem meu corpo se contorcer sem ar... Só me lembro do agora. A praça vazia, meus olhos arregalados vendo a neve cair em pequenos flocos e começar a cobrir a terra negra e sulcada que se estendia a frente. Queria me mexer, mas não era possível, queria me libertar da maldita corda, mas não era possível, queria respirar, mas os pulmões não funcionavam, queria desesperadamente rasgar meu peito e apertar meu coração para que pulsasse outra vez, porém o miserável não batia, minha caixa torácica pesava horrivelmente, queria poder parar de engolir o sangue proeminente da minha língua que fora mutilada pelos meus próprios dentes na queda.

Pelos sete infernos e todos os outros que eu haveria de conhecer! Queria ao menos me conceder o privilégio de piscar os olhos e parar de enxergar a cova que a cada minuto se enchia com corpos de ilustres amigos meus que costumava a esmurrar em um dia feliz de bebedeira.

Se estou vivo ninguém percebe, se estou morto porque não morro?

A morte estava brincando comigo, assim como me contorci na ponta da corda ela estava agora se contorcendo de tanto rir ao ver que dentro de mim pairava a vontade de descer dali e caminhar de volta para o buraco da onde saí esta manhã. Não sentia dor, não sentia o corpo, mas sentia o peso como uma montanha em cima de mim, sentia os braços do próprio demônio abraçados em minhas pernas esticando-me a ponto de me fazer dez centímetros maior do que era.

Quero morrer! O fim! O inferno! Seja lá o que há... Mas quero agora, nesse exato momento quero o abismo à escuridão, parem com isso, parem!

Talvez esteja sonhando deitado na sarjeta podre de bêbado e logo acordo com um leão na cabeça... Se é um sonho ainda continuo nele. Pequeninas mãos correram pelas minhas costas e senti meus sapatos sendo tirados dos pés, a diabólica criança de cabelos dourados ao meu lado subiu em um banco para tirar-me o aconchegante casaco que roubara de um fidalgo de cartola que me esbofeteou quando puxava o dito cujo e por resultado teve sua garganta aberta para melhor circulação sanguínea. Malditos demônios saiam daqui! Puta merda, só queria esganar ao menos um!

Bastardos deixaram-me nu, logo eu que matava por uma boa vestimenta.

Não é um sonho, não estou vivo, não estou morto, já tinha ouvido disso. Falam as más línguas que isso acontece quando não lhe fecham os olhos após a morte e negam as duas moedas ao barqueiro, do que me valia à benção do padre sem as moedas, não precisariam nem gastar eu as tinha no bolso do casaco do fidalgo. Ainda me pagam esses cretinos! Calhordas! Vermes! Abutre...


Aquele é o guarda Stuart e eu sei o que vai fazer, Deus me perdoe, juro que fui sempre bom, nunca ataquei alguém que não merecesse, por favor! A corda foi cortada em um segundo pela espada do oficial e logo estou no escuro, agora talvez descanse...  Estúpido pensamento... O céu nublado surgiu lá em cima, pois era a única direção que meus amaldiçoados olhos podiam fitar, o insaciável defensor da lei me arrasta pela terra fria, tudo que percebo são nuvens balançando com o movimento do oficial levando-me para a cova, o maldito segurava apenas a corda e essa pressão por sua vez quase me tirava os olhos do rosto.

Isso seria bom!

Logo o mundo para e outro ilustre guarda pega as minhas pernas, em um segundo as coisas giram e com um estrondo sou jogado em uma pilha de cadáveres de olhos abertos tão mortos quanto eu. Sentia um liquido gelado ser jogado em mim, mas não o cheiro. Pensei que fosse urina, no entanto vi que era querosene e pensei, não posso sentir mais nada estou morto! Não estou?

- Que o diabo os carregue!

Com essas palavras o oficial selou minha sina. O fogo se alastrou primeiro em minha cabeça derretendo-me até o osso e fazendo minha alma correr parada de tanta dor, tudo tornava-se um e um tornava-se nada, eu gritava, mas creio que não fosse ouvido, não por eles ao menos. Não durou muito até tornar-me uma caveira carbonizada, sem olhos, sem pele, sem vida. Mas...

Porque ainda penso e falo? Porque ainda vejo e escuto? Porque a dor se apega a mim?

Porque ainda eu queimo? Deus porque estou queimando? Porque queimo? Por quê?


Por quê?!