Olá caros imortais, talvez pareça um tanto trash abrir as postagens com
um conto sobre morte, mas a intenção não é trazer má sorte, aliás a maioria dos
contos não serão tão tensos assim, bom talvez uma boa parte sim, mas... Enfim este
conto me veio a cabeça após escutar e assistir o videoclip da música Asylum da
banda Disturbed, para quem quiser assistir segue o link:
http://www.youtube.com/watch?v=1K9jBL2syJ8
http://www.youtube.com/watch?v=1K9jBL2syJ8
Comentários, críticas e sugestões são sempre bem vindas, até a próxima.
Duas moedas
A imagem não surgiu aos poucos.
Não estava desfocada e tornando-se nítida e nem tão pouco se
assemelhava a uma ofuscante luz no final do túnel.
Ah não!
Simplesmente ela estava lá. Estampada a minha frente sem que
eu a pudesse tocá-la.
Sentia a espessa corda apertando o meu pescoço e ouvia
lentamente a canção que entoava quando vez que outra, balançava ao vento. Na
verdade ela me parecia ser a única coisa que mantinha minha inchada cabeça ao
meu imundo corpo. Lembro-me de ter sido forçado a subir a escada de madeira sem
que meus executores expressassem nenhuma comoção com os meus gritos de protesto
e pragas proferidas a todos esses bastardos que me enforcavam.
A lembrança da pesada corda pousando sobre mim me retorna a
mente, neste momento, amaldiçoava, a plenos pulmões, a estupida garota que
morreu com uma singela pancada na cabeça, não era para sangrar feito uma porca!
Somente queria que ficasse inerte perante a diversão que se seguiria.
Azar o dela que a madeira tenha lhe cravado na nuca... Dela
e de outras três... Malditas sejam todas!
Pelos diabos porque ainda estou acordado?
Depois de ouvir a infame acusação e os gritos da multidão
para que fizessem meu corpo se contorcer sem ar... Só me lembro do agora. A
praça vazia, meus olhos arregalados vendo a neve cair em pequenos flocos e
começar a cobrir a terra negra e sulcada que se estendia a frente. Queria me mexer,
mas não era possível, queria me libertar da maldita corda, mas não era
possível, queria respirar, mas os pulmões não funcionavam, queria
desesperadamente rasgar meu peito e apertar meu coração para que pulsasse outra
vez, porém o miserável não batia, minha caixa torácica pesava horrivelmente,
queria poder parar de engolir o sangue proeminente da minha língua que fora mutilada
pelos meus próprios dentes na queda.
Pelos sete infernos e todos os outros que eu haveria de
conhecer! Queria ao menos me conceder o privilégio de piscar os olhos e parar
de enxergar a cova que a cada minuto se enchia com corpos de ilustres amigos
meus que costumava a esmurrar em um dia feliz de bebedeira.
Se estou vivo ninguém percebe, se estou morto porque não
morro?
A morte estava brincando comigo, assim como me contorci na
ponta da corda ela estava agora se contorcendo de tanto rir ao ver que dentro
de mim pairava a vontade de descer dali e caminhar de volta para o buraco da
onde saí esta manhã. Não sentia dor, não sentia o corpo, mas sentia o peso como
uma montanha em cima de mim, sentia os braços do próprio demônio abraçados em
minhas pernas esticando-me a ponto de me fazer dez centímetros maior do que
era.
Quero morrer! O fim! O inferno! Seja lá o que há... Mas
quero agora, nesse exato momento quero o abismo à escuridão, parem com isso,
parem!
Talvez esteja sonhando deitado na sarjeta podre de bêbado e
logo acordo com um leão na cabeça... Se é um sonho ainda continuo nele. Pequeninas mãos correram pelas minhas
costas e senti meus sapatos sendo tirados dos pés, a diabólica criança de
cabelos dourados ao meu lado subiu em um banco para tirar-me o aconchegante
casaco que roubara de um fidalgo de cartola que me esbofeteou quando puxava o
dito cujo e por resultado teve sua garganta aberta para melhor circulação
sanguínea. Malditos demônios saiam daqui! Puta merda, só queria esganar ao
menos um!
Bastardos deixaram-me nu, logo eu que matava por uma boa vestimenta.
Não é um sonho, não estou vivo, não estou morto, já tinha
ouvido disso. Falam as más línguas que isso acontece quando não lhe fecham os
olhos após a morte e negam as duas moedas ao barqueiro, do que me valia à
benção do padre sem as moedas, não precisariam nem gastar eu as tinha no bolso
do casaco do fidalgo. Ainda me pagam esses cretinos! Calhordas! Vermes! Abutre...
Isso seria bom!
Logo o mundo para e outro ilustre guarda pega as minhas
pernas, em um segundo as coisas giram e com um estrondo sou jogado em uma pilha
de cadáveres de olhos abertos tão mortos quanto eu. Sentia um liquido gelado
ser jogado em mim, mas não o cheiro. Pensei que fosse urina, no entanto vi que
era querosene e pensei, não posso sentir mais nada estou morto! Não estou?
- Que o diabo os carregue!
Com essas palavras o oficial selou minha sina. O fogo se
alastrou primeiro em minha cabeça derretendo-me até o osso e fazendo minha alma
correr parada de tanta dor, tudo tornava-se um e um tornava-se nada, eu
gritava, mas creio que não fosse ouvido, não por eles ao menos. Não durou muito
até tornar-me uma caveira carbonizada, sem olhos, sem pele, sem vida. Mas...
Porque ainda penso e falo? Porque ainda vejo e escuto?
Porque a dor se apega a mim?
Porque ainda eu queimo? Deus porque estou queimando? Porque
queimo? Por quê?
Por quê?!
Cruel e intenso. Gostei da relação que fez com o barqueiro.
ResponderExcluirTambém quero saber os porquês do final.
:)
Obrigada, Jessica. Realmente eu também gostaria de saber, hehe
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